Dezenove dias antes de a equipe do setor de guarda-volumes da Estação Rodoviária de Porto Alegre se deparar com remanescentes humanos de uma mulher dentro de uma mala, na segunda-feira (1º de setembro), a ação de um perito criminal do Instituto-Geral de Perícias do Rio Grande do Sul (IGP) foi crucial para a resolução desse crime que impactou a sociedade gaúcha.
O IGP foi acionado no dia 13 de agosto para atender uma ocorrência de encontro de cadáver na Rua Fagundes Varela, na zona leste de Porto Alegre. Durante a análise do local, o perito responsável pelo atendimento coletou os nós dos sacos de lixo onde estavam os remanescentes humanos da vítima. A medida teve como objetivo preservar possíveis vestígios biológicos deixados por quem manuseou os sacos, na expectativa de que isso pudesse auxiliar na identificação dos envolvidos no crime.
Esse material, assim como os seis fragmentos humanos encontrados, foi encaminhado à Divisão de Genética Forense (DGF) do Departamento de Perícias Laboratoriais (DPL) do IGP.
O início das análises periciais
A equipe da DGF conseguiu, em uma primeira etapa, extrair o perfil genético dos remanescentes humanos, confirmando que todos os fragmentos pertenciam a uma mesma pessoa do sexo feminino. Esse perfil foi inserido no Banco de Perfis Genéticos do Estado do Rio Grande do Sul (BPG/RS), mas não houve correspondência com os registros de familiares de pessoas desaparecidas, o que impediu a identificação da vítima.
Em uma etapa posterior, os peritos da DGF analisaram os nós dos sacos de lixo coletados pelo perito no dia 13 de agosto, no local do encontro dos remanescentes humanos, com o objetivo de identificar vestígios genéticos distintos do perfil da vítima, que pudessem apontar para o autor do crime. A análise teve resultado positivo: foi identificado um segundo perfil genético, desta vez de um indivíduo do sexo masculino, viável para comparação com o BPG.
Novas descobertas
O caso ganhou novos contornos em 1º de setembro, quando um tronco humano do sexo feminino foi localizado dentro de uma mala, no guarda-volumes da Rodoviária de Porto Alegre. Novamente, o IGP foi acionado para realizar a perícia no local do encontro do cadáver. O material genético extraído dos novos remanescentes humanos foi comparado com os fragmentos anteriormente encontrados na zona leste da Capital, e o exame confirmou que se tratava da mesma vítima.
Dois dias mais tarde, foram concluídas as análises do material coletado nos nós dos sacos de lixo, permitindo a inclusão do perfil genético encontrado no BPG. De imediato, a DGF procedeu a uma busca entre os perfis constantes no banco, resultando em um confronto positivo (chamado de match) com o perfil de um indivíduo oriundo do sistema prisional, que havia passado por coleta de material biológico em 2021, após condenação por crime de homicídio.
Coleta de material genético nos presídios foi fundamental
A descoberta foi crucial para viabilizar a prisão preventiva do suspeito por parte da Polícia Civil, fornecendo provas técnicas que trazem robustez à investigação. O "match" só foi possível devido às ações realizadas em conjunto pelo IGP e a Polícia Penal dentro dos presídios, onde ocorrem as coletas de DNA de condenados por crimes graves. A coleta está prevista no artigo 9º da Lei de Execução Penal, e se destina a condenados por crimes dolosos praticados com violência grave contra a pessoa, bem como por crimes contra a vida, crimes contra a liberdade sexual, e crimes sexuais contra pessoas vulneráveis.
Todos os resultados das perícias foram compartilhados com a Polícia Civil antes da emissão do laudo, de forma a evitar o vazamento de informações que pudessem comprometer a investigação e a prisão do suspeito.
Texto: Leonardo Ambrosio. Edição: Gregório Mascarenhas / Ascom IGP